Criador de “O Eternauta” teve um fim trágico após lançamento da obra. Entenda
Héctor Germán Oesterheld, autor de "O Eternauta" fez sua obra se tornar símbolo de resistncia, mas infelizmente teve um fim trágico por isso.
O lançamento da série O Eternauta, uma das produções mais recentes da Netflix, trouxe à tona novamente o nome de Héctor Germán Oesterheld, o autor da famosa obra argentina que se tornou um ícone cultural e de resistência.
No entanto, a história do criador de O Eternauta vai além da ficção. Seu trágico destino pessoal fez com que sua obra se tornasse ainda mais simbólica da luta contra a opressão.
Sucesso da Netflix foi criado por autor desaparecido na ditadura argentina

A adaptação de O Eternauta para a Netflix, protagonizada por Ricardo Darín no papel de Juan Salvo, trouxe a obra de Oesterheld novamente aos holofotes, conquistando uma nova geração de fãs ao redor do mundo.
Publicada inicialmente como quadrinho em 1957, O Eternauta apresenta uma narrativa de ficção científica, na qual uma nevasca mortal, alimentada por uma invasão alienígena, atinge Buenos Aires, matando a maior parte da população.
O foco da história, no entanto, não está nos monstros ou nas forças alienígenas, mas em como um grupo de pessoas comuns se une para sobreviver em meio ao caos — algo que ecoa profundamente no contexto histórico da Argentina, especialmente a partir dos anos 1970.
O Eternauta refletia, mesmo que de forma disfarçada, as tensões e os horrores do período de repressão vivido pela Argentina durante a ditadura militar.
Foi justamente esse contexto político que levou Oesterheld a tornar-se um alvo do regime, fazendo com que ele, seu trabalho e sua família se tornassem parte de uma tragédia humana ainda maior.
O desaparecimento de Héctor Germán Oesterheld
O destino de Oesterheld é marcado por uma das histórias mais trágicas da ditadura argentina.

Nascido em 1919, o autor teve uma carreira política ativa e se envolveu com a organização política Montoneros, um grupo que lutava contra a repressão do governo militar.
Sua militância, porém, não se dava através de armas, mas através de sua arte, com seus quadrinhos retratando a realidade do seu tempo e transmitindo mensagens de resistência e solidariedade.
Em 1977, Oesterheld foi sequestrado por um grupo de tarefas da ditadura militar, em um contexto de crescente repressão. Ele estava vivendo na clandestinidade, como muitos outros opositores do regime.
Sua prisão ocorreu em 27 de abril de 1977, em La Plata. Ele tinha 57 anos na época.
De acordo com testemunhos de sobreviventes, como o psicólogo Eduardo Arias, Oesterheld foi levado para o centro clandestino de detenção El Vesubio, onde foi mantido em condições desumanas.
Seu estado de saúde se deteriorou gravemente devido à tortura física e psicológica, mas mesmo assim continuou a escrever durante o tempo em que foi mantido em cativeiro.
Infelizmente durante sua prisão, ele soube da morte de suas filhas e de sua esposa, Elsa Sánchez.
A opressão e morte chegou até sua família

Todas as quatro filhas do autor foram sequestradas e desaparecidas durante a ditadura. Beatriz, Diana, Estela e Marina — todas militantes do movimento Montoneros — foram capturadas, torturadas e assassinadas pelo regime.
Estela, a filha mais velha, morreu em 1977, vítima de ferimentos após ser baleada durante uma tentativa de sequestro.
Diana, que estava grávida de seis meses, também foi sequestrada em 1976 e desapareceu sem deixar rastros, assim como sua filha.
Marina, que estava grávida de oito meses, também foi capturada e desapareceu junto com seu parceiro, Alberto Seindlis.
Essa sucessão de perdas devastadoras tornou a vida de Héctor Germán Oesterheld, um reflexo do próprio enredo de O Eternauta, mas mesmo em meio a esse caos, ele conseguiu concluir a sequência de O Eternauta, intitulada O Eternauta II, onde a narrativa se torna ainda mais explícita em sua crítica ao regime militar.
A obra, que inicialmente era uma ficção científica, ganhou tons de denúncia política, representando a luta de um povo submisso à violência e à opressão de um governo autoritário.
O autor nunca foi visto novamente após seu último período de detenção, entre dezembro de 1977 e janeiro de 1978, e seu corpo nunca foi encontrado.
A data e o local de sua morte permanecem um mistério, e sua história de desaparecimento é uma das muitas tragédias não resolvidas da ditadura argentina.