A Grande Descoberta: Entenda como foi feita a genealogia de DNA, que revelou o assassino no caso real da série
"A Grande Descoberta" retrata um crime real que foi desvendado com a genealogia de DNA 16 anos depois. Veja como o caso foi resolvido.
Um mistério que perdurou por 16 anos, envolvendo um brutal duplo homicídio que abalou uma cidade inteira e parecia não ter solução, é a história do caso real por trás da série A Grande Descoberta, da Netflix.
A produção retrata como um genealogista e um detetive se uniram para resolver um crime que desafiou todas as técnicas tradicionais de investigação. Mas como, afinal, a genealogia de DNA, um método inovador, conseguiu desvendar o mistério? É o que vamos explorar.
Como a genealogia resolveu o caso retratado na série “A Grande Descoberta”
A história real de A Grande Descoberta ocorrem em outubro de 2004, quando Mohamad Ammouri, um menino de 8 anos, foi morto enquanto ia para a escola. Anna-Lena Svensson, uma professora que tentou ajudar, também foi atacada.
O assassino fugiu, mas deixou para trás uma faca, um chapéu e, principalmente, seu DNA.
A polícia tinha o material genético do criminoso, porém, não existia ninguém nos bancos de dados policiais que correspondesse àquele perfil genético. Por mais que o DNA estivesse ali, era como procurar uma agulha no palheiro — sem nenhuma ideia de onde começar.
Nos anos seguintes, mais de 7.000 pessoas foram interrogadas e 13.000 pistas foram analisadas. Mas, apesar de todos os esforços, o caso parecia impossível de resolver.
Quando a genealogia de DNA entrou em cena
Avançamos para 2019. Uma nova lei na Suécia permitiu que a polícia usasse algo chamado “busca familiar” em investigações.
Isso permitiu que, pela primeira vez em anos, eles usassem o DNA de criminosos conhecidos para tentar encontrar parentes próximos do suspeito. Mas a tentativa deu em nada, já que os bancos policiais contêm apenas informações de pessoas condenada.
Foi então que surgiu a ideia de usar a genealogia de DNA.
Diferente dos bancos de dados policiais, os bancos de dados genealógicos, como o Family Tree DNA (FTDNA), são enormes e têm informações de milhões de pessoas que voluntariamente compartilharam seu DNA para pesquisas familiares.
A ideia era (supostamente) simples: usar o DNA do assassino para encontrar parentes e, a partir disso, chegar até ele.
Peter Sjölund, um genealogista sueco especializado em DNA, foi chamado para ajudar. Ele já tinha usado essa técnica para resolver mistérios familiares, mas nunca para um caso criminal tão grande.
Decifrando o DNA do assassino
A primeira dificuldade foi a qualidade do DNA encontrado na cena do crime. Depois de 16 anos, as amostras estavam desgastadas, incompletas e difíceis de decifrar.
Foi preciso meses de trabalho do Gabinete Médico Legal Sueco para “reconstruir” um perfil genético utilizável.
Quando finalmente conseguiram, o DNA foi enviado ao banco de dados do Family Tree DNA. E aí veio o primeiro sinal de esperança: o DNA do assassino foi identificado como pertencente a um grupo de parentes distantes — cerca de 890 pessoas que compartilhavam pequenas partes do material genético com ele.
Esse era o ponto de partida, mas o caminho para encontrar o culpado ainda seria longo.
Montando as árvores genealógicas
Com os resultados em mãos, Peter Sjölund começou a construir árvores genealógicas. Ele pegou cada nome da lista e começou a buscar conexões entre essas pessoas, usando registros populacionais, históricos e até redes sociais.
Logo, um padrão começou a surgir. Quase todos os parentes distantes tinham ancestrais comuns que viveram entre os séculos XVIII e XIX em duas pequenas aldeias da região de Östergötland, na Suécia.
Isso ajudou a reduzir bastante os números da investigação.
Mas não era tão simples. Muitos dos parentes tinham nomes comuns ou pouca informação disponível. Para piorar, várias famílias haviam emigrado para os Estados Unidos, e Sjölund precisou rastrear seus descendentes até lá.
Ao final de meses de trabalho, ele tinha algo mais concreto: um grupo de descendentes diretos desses ancestrais, que incluía homens nascidos entre 1975 e 1985 — a faixa etária estimada do assassino.
Dois irmãos e uma descoberta chocante
Depois de eliminar várias possibilidades, a genealogia de DNA apontou, realmente para uma “grande descoberta”: dois irmãos compartilhavam exatamente o mesmo histórico genético, o que significava que o DNA encontrado na cena do crime poderia pertencer a qualquer um deles.
Nesse momento, o trabalho da polícia entrou em ação. Eles localizaram os irmãos e coletaram amostras de DNA de ambos. Em poucas horas, veio a confirmação: o DNA de um deles, Daniel Nyqvist (renomeado na série como David Nilsson) um homem de 37 anos, correspondia 100% ao perfil encontrado na cena do crime.
Confrontado com as evidências, ele confessou os assassinatos de Mohamad Ammouri e Anna-Lena Svensson. Finalmente, depois de 16 anos, o mistério foi resolvido.
Fonte: Slakt historia