“O Preço da Verdade”: O que é real e o que é ficção do filmaço no top 10 da Netflix
"O Preço da Verdade" é um filmaço que chegou na Netflix, baseado em história real. Veja o que é realidade e ficção nessa trama.
O filme O Preço da Verdade, dirigido por Todd Haynes, conquistou espaço no top 10 da Netflix ao relatar a impressionante história de Robert Bilott, um advogado que trava uma longa batalha judicial contra a gigante química DuPont.
Baseado em fatos reais, o longa chama atenção para um caso de contaminação ambiental que afetou milhares de pessoas nos Estados Unidos. Mas o quanto desse drama jurídico é fiel à realidade?
A história real por trás de “O Preço da Verdade”
O filme traz à tona a luta de Robert Bilott, um advogado corporativo de Cincinnati que, em 1998, se depara com uma denúncia peculiar: um fazendeiro chamado Wilbur Tennant, de Parkersburg, Virgínia Ocidental, relata a morte de seu gado em circunstâncias misteriosas.
Ao investigar o caso, Bilott descobre que a causa das mortes está ligada à contaminação da água por resíduos químicos despejados pela empresa DuPont.
A substância responsável pela contaminação era o PFOA (ácido perfluorooctanoico), um produto químico não regulamentado na época, utilizado na fabricação do Teflon, o popular material antiaderente.
O filme retrata Bilott como um advogado que, ao descobrir a extensão dos danos à saúde causados pelo PFOA, inicia uma batalha judicial que duraria duas décadas e revelaria uma série de práticas questionáveis da DuPont.
A produção é baseada no artigo “The Lawyer Who Became DuPont’s Worst Nightmare”, publicado pela New York Times Magazine em 2016, e também no livro “Exposure”, em que o próprio Bilott narra sua experiência de 20 anos lutando contra a corporação.
Entre realidade e ficção: Bilott, Tennant e a DuPont
A interpretação de Robert Bilott, feita por Mark Ruffalo, é fiel à realidade em vários aspectos.
Bilott de fato passou por uma transformação representando a vítima de uma corporação que ele próprio conhecia tão bem. A personalidade discreta e determinada do advogado, destacada no filme, reflete seu comprometimento com a justiça, apesar das pressões que enfrentou.
O filme também mostra os efeitos devastadores que a batalha judicial teve na saúde de Bilott. Realmente, em 2010, Bilott começou a apresentar sintomas como os de ataques isquêmicos transitórios, que consistem em episódios temporários semelhantes a derrames.
Sua dedicação ao caso e o estresse constante contribuíram para o agravamento de sua saúde, conforme ele próprio relata em sua autobiografia.
A fazenda da família Tennant é um dos pontos centrais da narrativa, e os eventos retratados são, em grande parte, precisos.
A DuPont realmente comprou uma parte da terra da família, transformando-a em um depósito para resíduos químicos, que contaminavam o solo e a água da região.
O conflito entre a comunidade local e Wilbur Tennant, que foi marginalizado por processar a principal empregadora da região, é outro aspecto verídico da história.
Confrontando a DuPont: batalhas legais e acordos
No filme, Bilott move uma ação contra a DuPont que culmina em um acordo para monitoramento médico da população de Parkersburg, que teve sua água contaminada pelo PFOA.
Na vida real, esse acordo levou a uma série de estudos epidemiológicos, que finalmente ligaram a exposição ao PFOA ao surgimento de várias doenças, como câncer de rim e de testículo. Essa constatação levou à condenação da DuPont a pagar indenizações milionárias.
A caracterização da DuPont no filme como uma empresa que sabia dos perigos do PFOA, mas os manteve em segredo, é precisa.
Documentos internos da empresa revelados durante a investigação mostraram que a DuPont já sabia, desde a década de 1960, que o PFOA apresentava riscos significativos à saúde. Ainda assim, a substância continuou sendo usada amplamente.
A ficção em meio a verdade
Como qualquer filme baseado em história real, O Preço da Verdade toma algumas liberdades criativas para manter o ritmo e aumentar a tensão.
Um exemplo é o personagem Phil Donnelly, que confronta Bilott de forma agressiva. No mundo real, esse personagem é uma composição de diferentes executivos da DuPont, e não há registro de um confronto direto como o que é mostrado.
Além disso, o filme cria alguns personagens para fins narrativos.
O advogado James Ross (William Jackson Harper), não existe na realidade e foi criado para simbolizar as possíveis discordâncias internas no escritório de advocacia de Bilott.