Sarah Winchester da vida real não era como a personagem de “A maldição da Casa Winchester”
A personagem principal de "A Maldição da Casa Winchester" não era exatamente como a figura da vida real. Entenda.
Sarah Winchester, de Ellen Mirren, é a figura principal do filme de terror A Maldição da Casa Winchester, atualmente no top 10 de mais assistidos da Netflix. Porém, a verdade é que a verdadeira Sarah Winchester, na qual o filme se inspirou, era completamente diferente da personagem retratada no filme.
Uma das mulheres mais ricas do século XIX, Winchester é frequentemente retratada como uma figura excêntrica e supersticiosa, atormentada pela culpa e obcecada por espíritos. O que não poderia estar mais longe da realidade, segundo fontes históricas.
Sarah Winchester e o mito de sua loucura e superstição
Nascida Sarah Lockwood Pardee em New Haven, Connecticut, entre 1835 e 1845, Sarah cresceu em uma família respeitável de classe média alta.
Desde jovem, ela demonstrou uma inteligência excepcional, sendo fluente em várias línguas e recebeu educação de ponta em um ambiente progressista, onde foi influenciada por filosofias maçônicas-rosacruzes, matemática e física.
Ao longo da vida, Sarah realmente perdeu muitos familiares ao longo de uma década, mas ao contrário do que sugere a cultura popular, ela não se voltou para sessões espíritas ou teve seu juízo abalado por conta disso.
A construção da icônica Winchester Mystery House, onde ela viveu até sua morte em 1922, foi interpretada erroneamente como uma tentativa de “apaziguar espíritos”. Mas não existem registros históricos de que Sarah tenha consultado médiuns ou conduzido sessões espíritas para obter instruções sobre a construção da casa.
Sua mais próxima companheira e enfermeira, Henrietta Severs, afirmou categoricamente que Sarah não era supersticiosa.
Filme e cultura pop ajudaram a criar imagem deturpada da filantropa
O mito de que Sarah Winchester construiu a casa para confundir espíritos, ou que seguia instruções de sessões espíritas, se popularizou principalmente através de filmes e histórias sensacionalistas que tomaram corpo durante sua vida, e ainda mais após sua morte, em 1922.
A narrativa de que ela era guiada por fantasmas para evitar uma maldição começou a ser espalhada quando a família, após a morte dela, decidiu abrir a casa à visitação turística. Depois disso, o mito foi sendo alimentado, possivelmente com intuito marqueteiro.
Em A Maldição da Casa Winchester, por exemplo, Sarah é retratada como uma mulher aterrorizada pelos espíritos das pessoas mortas pelos rifles Winchester, e que acreditava que sua única salvação era construir uma casa labiríntica para confundi-los. No entanto, arquivos relatam que, na verdade, a mulher possuia nada além de um grande interesse, e conhecimento, por arquitetura.
Ela assinava periódicos sobre arquitetura, como o Architectural Record, e envolveu-se diretamente no design da mansão.
Também é importante destacar que Sarah interrompia frequentemente as obras na mansão, algo que contraria a crença popular de que a construção nunca parava devido ao medo de que ela morreria se parasse.
Além disso, ela empregava trabalhadores locais em turnos rotativos, possivelmente para manter a economia local ativa e garantir o sustento de diversas famílias de sua comunidade.
A visão de Sarah como uma mulher supersticiosa é também enfraquecida pelos testemunhos daqueles que a conheciam de perto.
Frank Leib, seu advogado por mais de 25 anos, declarou que “Sarah era uma mulher “sensata e lúcida”, com uma compreensão dos negócios superior à da maioria dos homens de sua época“.
Sua sobrinha e secretária, Daisy Merriman, também nunca relatou comportamentos excêntricos ou supersticiosos.
O fato de que Sarah gerenciava pessoalmente seus investimentos e doava generosamente para diversas causas filantrópicas mostra uma pessoa racional e focada, e não uma mulher obcecada por espíritos ou atormentada por culpas.
Após sua morte, a Winchester Mystery House foi transformada em uma atração turística, e elementos como o número 13 em vários detalhes da casa foram adicionados posteriormente para reforçar a lenda.
Em resumo, a exploração comercial do legado de Sarah ajudou a criar a visão distorcida de uma mulher dominada pela superstição, ao invés de uma mulher inteligente, com interesses diversos.