Netflix será processada por “Todo Dia a Mesma Noite”; Associação de vítimas defende plataforma
Grupo de famílias das vítimas irá processar a Netflix por "Todo Dia a Mesma Noite". Associação de vítimas defendeu a plataforma.
Desde que “Todo Dia a Mesma Noite” estreou no catálogo da Netflix, os assinantes da série têm repercutido sobre os acontecimentos retratados pela série – que apresenta o incêndio da Boate Kiss.
Boa parte dos debates acerca da série, portanto, se voltam aos impactos que elas poderiam causar nas famílias das vítimas. No último fim de semana, esse debate teve diversos desdobramentos.
Famílias querem processar a Netflix por “Todo Dia a Mesma Noite”
A princípio, mais de 40 famílias e moradores de Santa Maria se uniram em torno de um único objetivo: notificar a Netflix judicialmente pelo conteúdo da série.
Em comunicado para a imprensa, o grupo revelou que foi pego de surpresa com a explicitude da série. Segundo eles, a plataforma de streaming tenta obter lucros explorando uma tragédia real.
Em uma conversa com Hugo Gloss, o coordenador do grupo comentou sobre o ocorrido: “Nós fomos pegos de surpresa, ninguém nos avisou, ninguém nos pediu permissão. Nós queremos saber quem está lucrando com isso. Não admitimos que ninguém ganhe dinheiro em cima da nossa dor e das mortes dos nossos filhos”, declarou Eriton Luiz Tonetto Lopes, empresário que perdeu sua filha na tragédia.
A advogada de Juliane Muller Korb, que também atua em Santa Maria e assumiu o caso, revelou que irá fazer a interlocução entre o grupo e a plataforma de streaming. A princípio, o objetivo é saber como os lucros da obra ajudarão as vítimas e a comunidade de Santa Maria.
“Todas as famílias sentem a mesma dor, mas de forma distinta, inclusive em relação a esta série. Todas têm mágoa com o poder judiciário e com a impunidade até aqui”, explicou a advogada ao GauchaZH “A grande questão é que faltou sensibilidade, por parte da Netflix, de fazer um contato com os pais. Não para pedir permissão nem coibir a licença poética, pois a história não tem dono, mas para avisar que seria algo totalmente diferente de tudo que eles já viram”.
Associação de vítimas defende streaming
Pouco após a informação sobre o processo circular nas redes, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria soltou uma nota sobre “Todo Dia a Mesma Noite“. Nela, o grupo ressalta que o enredo da série foca na família de quatro vítimas que estão cientes e de acordo com a produção.
Eles ainda ressaltam que irão acolher as pessoas que estão se sentindo afetadas, mas não estão recebendo valores da plataforma. Segundo a nota, o objetivo maior da produção é fortalecer a luta por justiça e por memória. Confira a publicação e o texto completo:
Ver essa foto no Instagram
“Perante a divulgação em inúmeros veículos da imprensa acerca de um processo contra a empresa Netflix em função da série Todo Dia a Mesma Noite, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria esclarece através desta nota que estávamos, sim, cientes que a produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro Todo Dia a Mesma Noite: a História Não Contada da Boate Kiss, de Daniela Arbex, e sente-se representada por ela bem como pelo livro da autora.
A produção não retrata de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância. Além disso, reiteramos que não estamos movendo nenhum processo contra as produções, nem pretendemos, por acreditarmos na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória.
Acreditamos, acima de tudo, que tragédias como a que vivenciamos precisam ser contadas através de todas as formas. Recontar essa história significa denunciar as inúmeras negligências e tentativas de silenciamento que encontramos pelo caminho, além de auxiliar na prevenção para que esse tipo de tragédia não aconteça com mais nenhuma família, algo que temos como propósito desde o primeiro dia de nossa fundação.
Mostrar o que aconteceu na Kiss faz com que a morte de nossos filhos e filhas, irmãos e irmãs, pais e mães, amigos e amigas não tenha sido em vão. Mostrar a morosidade, a burocracia e como é o sistema judiciário brasileiro serve como denúncia e como protesto. É preciso falar, debater, produzir materiais sobre o que aconteceu naquela trágica noite de 27 de janeiro de 2013, pois só assim conseguiremos que as pessoas entendam o que a ganância, a negligência e a omissão são capazes de fazer. Em Santa Maria, esses fatores mataram 242 jovens e deixaram 636 com marcas físicas e psicológicas.
Entendemos que rever a tragédia, principalmente nos dois primeiros episódios, pode mobilizar os sentimentos, as lembranças e dimensionar a impunidade em sua ferocidade e, com isso, a associação se disponibiliza a acolher e a promover ações para comporem o movimento por Justiça.
Por fim, esclarecemos que desde o dia 27 de janeiro de 2013, nós sofremos com a perda irremediável de nossos filhos, irmãos e amigos, sabemos o quanto isso nos dói. Não há nenhum valor sendo pago a nós com a produção, e o que ganhamos é a crença no fortalecimento na luta por justiça e pela memória. Para que não se repita.
Santa Maria, 29 de janeiro de 2023.”
CONFIRA Também:
“Todo Dia A Mesma Noite” é a série para você? Descubra se deve (ou não) assistir
Por fim, queremos saber: o que você achou dos conteúdos apresentados por “Todo Dia a Mesma Noite“? Gostou de assistir a série na plataforma de streaming? Para ficar por dentro de tudo que envolve a produção, fiquem sempre ligados aqui e nas páginas do Sobre Sagas!